terça-feira, 11 de maio de 2010


Há que se falar, primeiramente, que a “música contemporânea caiçara” é uma nova concepção musical, fruto não da fusão de diferentes estilos musicais pré-existentes, mas sim da ressignificação de identidades culturais e de suas referências no contexto atual.


Surgiu no litoral paulista, através da procura de nossas ancestralidades, do quinhão de nossos antepassados índios, europeus e africanos que perpetuaram seu conhecimento e sabedoria, geração após geração, através de uma gênese caiçara. Um elo, muitas vezes mudo, adormecido, sub-cutâneo, mas correndo em nossas veias e formando nossas células. Assim, sua matéria bruta é a intuição, o imaginário coletivo, o campo onde o ancestral encontra o contemporâneo e provoca novos olhares e reflexões.

Ressalta-se a harmonia dos timbres mais do que a harmonia das notas, expressando a música em livres associações e experimentações. Sua diversidade instrumental e a criação de novos instrumentos e de técnicas diferenciadas de uso, assim como a percussão corporal e vocal, possibilitam uma tessitura que remete ao imagético das florestas, vilas, dos centros cosmopolitas, e da relação do homem com o mar e o universo. Uma música que procura a gênese, o encontro de diferentes culturas e tempos e sua miscigenação no contemporâneo, no local e universal de cada um.

Seu minimalismo difere do convencional na medida em que não utiliza as longas repetições em série ou a estaticidade, mas faz da repetição uma possibilidade de mudança na medida em que transfere os sons para timbres diferentes, desconstruindo as células rítmicas e alterando cadências e andamentos em formas melódicas. Aproxima-se mais do minimalismo literário, onde a economia das palavras possibilita a contextualização e permite a livre significação. É uma música que sugere ambiências, que trabalha a sinestesia das imagens e dos timbres.

Encontra-se fortemente ligada à literatura, onde os textos literários são expressos através da música falada ou de melodias minimalistas carregadas de questionamentos filosóficos, valorizando a palavra em sua profundidade, densidade e simplicidade. A pergunta mais do que a resposta.

Outra característica é a organicidade. Compreendida como o elemento vivo da música, está estruturada na mistura da composição com o improviso (aleatoriedade limitada), e na “música livre”, processo onde o público é convidado a improvisar aleatoriamente com os músicos. Uma música que a cada execução se transforma. Uma música viva, pulsante, intrigante e instigadora, que sugere ao invés de ditar.

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