quinta-feira, 29 de março de 2012

Edições Caiçaras lança "Perdas & Danos" de Madô Martins

A Edições Caiçaras lança Perdas & Danos de Madô Martins.

Belíssimo livro de poemas onde o lirismo da perda, do amor que acaba mas não finda, faz com que o avesso emudeça o silêncio para não perder a razão, o chão que tão incertamente pisamos quando o mundo parece estar de luto. Poema a poema Madô revira as delicadas nuances do sentimento que envolve a perda repentina do amado, a perda definitiva e atroz, sem chances ou esperança, nesse momento nos revela a sutileza de travesseiros repartidos pelas lembranças das dúvidas, sonhos e fragmentos da vida amorosa.

"Soube da tua morte / por amigos. / Eu, que há muito / te sepultara,
sete palmos abaixo da memória."

Estranhamente a morte renasce o sentimento e o amor aflora como quem "descostura pregas e bainhas" para depois recosturá-las palavra por palavra.

Perdas & Danos é um mergulho em noites onde "vestimos a dor pelo avesso", onde o feminino se mostra em suas mais contundentes contradições:

"No coração de tuas mulheres, / tantas, / pulsam amor e ódio

E ainda assim ser capaz do perdão, essa característica tão feminina e infinitamente superior.

"mas o tempo coará todo rancor
e só o que foi bom ficará."

Um livro para viver e reviver grandes amores. Um livro dentro de outros livros onde o leitor é levado por uma interessante correlação das palavras nos poemas que funcionam como links de sensações.

Márcio Barreto



Nota da Autora

As cinco fases do luto – negação, raiva, barganha, depressão e aceitação – estão representadas nestes poemas de pranto contido. Luto que imita o fado, em seus diálogos na segunda pessoa, e o tango, em sua dor inconformada, mascarada de fatalismo.
Os poemas mesclam as fases, espelhando a confusão própria de quem sofreu grande perda. Ao interrelacionar as páginas, a obra oferece ao leitor vários livros dentro do livro, que podem ser reconstruídos ao gosto pessoal.


Sobre a Autora

Madô Martins escreve poesia moderna, haicai, conto, crônica e, em 2011, lançou Avesso, seu primeiro romance.
Tem dez livros publicados e mais de 70 premiações literárias em concursos nacionais e internacionais (Portugal e EUA). Desde 2000, é cronista do jornal A Tribuna, de Santos/SP, aos domingos, no caderno Galeria. Também assina a coluna Letras Cotidianas no site www.midiativasantos.com e participa do site Cinezen, Facebook e Twitter. Realiza palestras e oficinas literárias.

Obras publicadas:
1999 - Doce Destino (Massao Ohno Editor), poesias
2000 - Paixão e Morte (produção independente), contos
2001 - Pensando em Verso (EditorAção), infantil
2004 - O Jacaré da Lagoa (produção independente), primeiro volume de uma série jornalística para crianças
2004 - Alfabeto do Vento (produção independente), haicais
2006 - Uma vez em 2284 e outras histórias planetárias (Editora Quártica), contos futuristas
2008 - Três meses no Japão (Editora Comunnicar), crônicas de viagem
2009 - Voo de Borboleta (Editora Leopoldianum, da Universidade Católica de Santos - Unisantos), crônicas
2011 – Avesso (Clube de Autores), romance
2011 – Diário Ínfimo (Sereia Ca(n)tadora), poesias

Contato com a autora pelo e-mail:
mado.escritora@gmail.com

quarta-feira, 21 de março de 2012

Desaforismos - Flávio Viegas Amoreira - Edições Caiçaras


Com lançamento na Pinacoteca Benedito Calixto, previsto para 05 de maio, pela Edições Caiçaras, Flávio Viegas Amoreira mostra sua face oscarwildeana e nos brinda com seus "desaforismos".

Pescados no mar bravio do facebook, seus aforismos nos levam à boa companhia das mentes ágeis e irrequietas que fazem da literatura uma ponte entre o desencanto e a salvação para quem sabe e sente em demasia, ou como diria Flávio: "Amo demais, percebo demais o mundo e as pessoas, sinto uma melancolia que adoço com vinho de sempre..."

Tamanho lirismo e profundidade carregam seus "desaforismos" que nos sementeiam em cheio a razão oceânica através de um olhar que devassa a condição humana. Capaz de levar-nos do riso à perplexidade, Flávio Viegas Amoreira nos surpreende com seus comentários refinados, sua erudição verborrágica e seu coração atlântico.

Neste livro, vemos o humano, o demasiado humano e o além do homem se transbordando em vastos pensamentos através da arte que o personifica tão bem - a literatura muitas vezes fragmentada, reinventada, deglutida, gritada e sussurrada pelos corredores da criação: "Criar é resistir".

Dono de uma personalidade amada por uns e odiada por outros, consequencia natural de uma obra repleta de peculiaridades, Flávio é capaz de nos enternecer, fazer pensar, sorrir e principalmente, questionar o stato quo vigente: "Somos mentiras sordidamente urdidas com esmero de artesão, nunca saímos de nada pensando transitar no que chamamos vida". Por outro lado, é capaz de aceitar e entender como ninguém a profundidade abissal do sentimento: "Perder um amor não é nada perto de perder a vontade de sonhar novos amores..."

Assim, pouco a pouco, vamos conhecendo Flávio Viegas Amoreira, suas nuances, opiniões sobre a vida, a arte, o cinema, os grandes pensadores, sua referências artísticas, sonhos, uma verdadeira máquina de emoções disparando ao gosto da vida. O livrro acompanha, à guisa de pequenos prefácios, declarações de diversos artistas sobre Amoreira, tais como Gilberto Mendes, Edson Amancio, Marcelo Ariel, Wagner Parra, Madô Martins, Regis Bonvicino, Marcos Piffer, Fabricio Lopez, Cláudio Nigro entre outros. .

Um livro que certamente marcará a memória do leitor: "Procuro salvar minha solidão na companhia daqueles que a enriqueçam, do fato de ser sozinho de modo mais consciente que os demais que pensam-se acompanhados."

"Vida é fazer ponte... Lançar pontes a outras almas..."

Sobre Flávio Viegas Amoreira

Escritor, crítico literário e jornalista; já lançou dez livros entre poesia, contos e romance; colabora com diversos jornais, revistas literárias e sites especializados em Arte. Faz parte da denominada “Geração Zero Zero”, autores de vanguarda surgidos no começo do século. Foi traduzido e adotado por universidades européias e norte-americanas. Fundador com Gilberto Mendes do “Fórum Santos Cultural”, de resgate das tradições de vanguarda e cultura do Litoral Paulista e do “sentimento atlântico do mundo”.


Desaforismos - Flávio Viegas Amoreira
Edições Caiçaras
Lançamento:
Pinacoteca Benedito Calixto
05 de maio - 17 as 20 hs

quinta-feira, 15 de março de 2012

Wisnikianas - visões antropofágicas na ilha de São Vicente



"Wisnikianas - visões antropofágicas na ilha de São Vicente" é uma homenagem ao músico, compositor e pesquisador vicentino José Miguel Wisnik. O texto é composto por fragmentos de sua obra interligados por reflexões sobre a identidade cultural brasileira e sua gênese. São recortados de seu universo o antropofagismo, o futebol, Machado de Assis, a imigração e a miscigenação. O processo de montagem se desenvolve a partir do conceito e dos desdobramentos da música-teatro de Gilberto Mendes, assim como os conceitos do que chamamos de "arte contemporânea caiçara", onde procuramos ressaltar o minimalismo, a aleatoriedade, o hibridismo e a relação entre o ancestral e o contemporâneo utilizando-se a literatura, a dança, o vídeo, o teatro e a música.

Primeiro Movimento

Sons de vento. Folhas secas jogados no chão. Projeção de vídeo da fachada de um velho hotel. Um foco de luz branca se ascende no canto esquerdo do palco, Wisnik, em pé, lê um jornal.

WISNIK: “Diz uma secreta e talvez duvidosa lenda familiar que meu avô embarcou com a família para a América, no mar Báltico, pensando aportar em Nova York, mas foi desembarcado em Paranaguá. Todos os dias agradeço esse erro, que veio para salvar. Meu pai era um imigrante polonês de família camponesa católica, dessas que formaram as levas de colonos polacos paranaenses, conduzidos primeiro para a zona rural, afluindo depois para Curitiba. Minha mãe, uma brasileira mestiça típica, no caso mineira, que ele encontrou mais tarde no litoral de São Paulo. Nasci em 27 de outubro de 1947 na cidade de São Vicente...”

Volta a ler o jornal e sai de cena. Cessa o vídeo. Sons de vento. Vídeo com imagens da ilha de São Vicente em preto e branco. Sons de carros, buzinas, conversas, propagandas, fragmentos de músicas, dial de rádio. Os atores atravessam o palco como se estivessem andando em uma calçada movimentada de São Vicente. Entram os músicos carregando seus instrumentos, direcionam-se cada um a um ponto do palco e preparam-se para tocar como se fossem executar uma apresentação na rua. Um homem vestido com terno atravessa lentamente o palco. Todos param. Uma bola de futebol é jogada em sua direção. Sons de torcidas de futebol, apitos e narrativas entrecortadas. Olha para os lados e começa a fazer embaixadas com a bola e sai de cena. Todos voltam a se movimentar. Os músicos vibram as cordas de seus instrumentos, um a um - devem ser percutidas as mais graves, iniciando o segundo movimento quando o som da primeira corda tiver cessado, primeiro pausadamente e depois acelerando – como chuva que começa fraca e depois se torna forte. Um corredor de luz se acende horizontalmente do proscênio para a rotunda. Os músicos param. Sons de sino. Uma menina cola folhas de papel no chão com movimentos rápidos e precisos, ao terminar de traçar uma linha do proscênio para a rotunda sai de cena. Os músicos voltam a tocar. Em vídeo, é projetada a imagem do Equilibrista, com vara e balões -filmado do alto para baixo - sua movimentação sugere que ele está descendo a rotunda – quando a cena chega no limite entre a rotunda e o chão do palco, o Equilibrista (ator) continua o movimento do vídeo da rotunda em direção ao proscênio, pisando nas folhas deixadas pela menina.

EQUILIBRISTA (quando chega ao meio do palco): O silêncio. No princípio era o sonho e fez-se o silêncio audível como o verbo de um pensamento que escapa. Um verbo-silêncio deslizando nas águas desse oceano inacabado que banha as praias brasílicas onde tupinambás, portugueses, espanhóis, franceses, holandeses e africanos vivem e guerream sobre os sambaquis.

CORO: No princípio era o silêncio e do silêncio fez-se o sonho abrupto como um temporal. O som. O sonho-som do silêncio. No princípio era o sonho e do silêncio fez-se o verbo deslizando nas ondas de um oceano inacabado...

O EQUILIBRISTA: A máquina. Ou tudo o que poderíamos pensar e já foi pensado, reiterado, transformado, reciclado, vislumbrado. A máquina que move mundos, tempos, eras, dias, cidades e idéias. A máquina que aciona espelhos e virtualidades em nosso pensamento. Acenos. Acentos. Lembranças.

O Equilibrista repete seus movimentos e falas em um volume cada vez menor e sai de cena. Sons de carro, buzinas, conversas, propagandas. Os músicos param e guardam seus instrumentos, andam pelo palco e saem. Sons de vento. A Menina entra e retira os papéis.


SEGUNDO MOVIMENTO – a origem do samba ou como a música criou o homem através da repetição

Pestana entra no palco. Cumprimenta os retratos dos compositores clássicos Cimarosa, Mozart, Beethoven, Gluck, Bach, Schumann e do escritor Machado de Assis – todos projetados em vídeo. Encaminha-se para o piano. Senta-se, consulta algumas partituras, faz anotações e prepara-se para tocar. Começa com uma composição aos moldes europeus e aos poucos a fragmenta e a transforma em polca e depois samba. Percebendo a mudança contrária a sua vontade, levanta as mãos abruptamente e levanta-se irritado.

SINHAZINHA MOTA: — Ah! O senhor é que é o Pestana? (pausa) Desculpe meu modo, mas... é mesmo o senhor?

PESTANA: Diga, minha senhora.

SINHAZINHA MOTA: É que nos toque agora aquela sua polca Não Bula Comigo, Nhonhô.

Irritado volta ao piano. Para e cumprimenta novamente os retratos. Senta-se, consulta algumas partituras, faz anotações e prepara-se para tocar. Começa com uma composição aos moldes europeus e aos poucos a fragmenta e a transforma em polca e depois samba. Percebendo a mudança contrária a sua vontade, levanta as mãos abruptamente e levanta-se mais irritado.

SINHAZINHA MOTA: — Ah! O senhor é que é o Pestana? (pausa) Desculpe meu modo, mas... é mesmo o senhor?

PESTANA: Diga, minha senhora.

SINHAZINHA MOTA: É que nos toque agora aquela sua polca Não Bula Comigo, Nhonhô.

Irritado volta ao piano. Para e cumprimenta novamente os retratos. Senta-se, consulta algumas partituras, faz anotações e prepara-se para tocar. Começa com uma composição aos moldes europeus e aos poucos a fragmenta e a transforma em polca e depois samba. Percebendo a mudança contrária a sua vontade, levanta as mãos abruptamente e levanta-se mais irritado.

PESTANA (gritando): “As polcas que vão para o inferno fazer dançar o diabo.”

Anda em círculos e para. Tira a casaca e o chapéu, fecha o piano e sai de cena. Sons de vento. Folhas secas jogadas no chão. Projeção de vídeo da fachada de um velho hotel. Um foco de luz branca se ascende no canto esquerdo do palco, Wisnik, em pé, lê um jornal.

WISNIK: “Diz uma secreta e talvez duvidosa lenda familiar que meu avô embarcou com a família para a América, no mar Báltico, pensando aportar em Nova York, mas foi desembarcado em Paranaguá. Todos os dias agradeço esse erro, que veio para salvar. Nasci em 27 de outubro de 1947 na cidade de São Vicente. Meu pai era um imigrante polonês de família camponesa católica, dessas que formaram as levas de colonos polacos paranaenses, conduzidos primeiro para a zona rural, afluindo depois para Curitiba. Minha mãe, uma brasileira mestiça típica, no caso mineira, que ele encontrou mais tarde no litoral de São Paulo. Exatamente a mesma composição étnica de Paulo Leminski. Curitiba se notabiliza historicamente por ser um ponto de passagem de tropeiros localizado exatamente no meio do nada, num lapso geográfico sem maiores arraigamentos culturais. Um ponto de parada no meio do caminho, e sem a pedra. Os imigrantes italianos, alemães e poloneses que vieram marcar em regime de colonato a substituição do regime de escravidão (abandonados os ex-escravos à sua própria sorte, sem projeto de inclusão) formaram por sua vez, no Paraná, grupos autorreferidos e refratários entre si, sendo os polacos os últimos da escala do sociograma de rejeições recíprocas. Esse modo de formação é o contrário do estilo fusional brasileiro, baseado na ambivalência das violências e das misturas, das mesclas culturais. Talvez por isso, se não for muito delírio, o “leite quente” das sílabas custe a se misturar na música das palavras, em contraste com o amolengamento à la Gilberto Freyre da linguagem afro-brasileira (sons de batucada ao fundo). Dando um curso sobre canção brasileira, certa vez, constatamos, eu e o grupo de alunos, que enquanto no Rio assistimos à transformação da polca em samba, em Curitiba pode-se constatar a improvável mutação do samba em polca. Esse animado e responsável grupo de percussão que passa exatamente agora pelo calçadão em frente ao hotel não me deixa mentir.”

Entra o grupo de percussão vestido com fantasias e máscaras de carnaval. Música “Mundosamba”

Makunaimas sensações de parto / Lispectorianos passos de dança,
De Marios, Oswalds / Wisnikianas visões antropofágicas
Tupiniquins questões existenciais / Samba / Será do morro o samba?
Samba / Bossa / Polca / Punk / Rap / Choro / Baião / Maxixe / Forró
Pop / Be boop / Capoeira / Terreiro / Maracatu / Samba, sambá, sambou
Sambo eu, samba você / Samba minha cabeça de dragão chinês

Samba a bossa nova / Samba o rock / Samba o jazz / Samba o tango
Samba o samba / Sambo eu, samba você / Samba minha cabeça de dragão chinês
Samba o presidente / Samba o povo / Samba o nobre / Samba o pobre / Samba a solidão
Sambam os amantes / Sambo eu, samba você / Samba minha cabeça de dragão chinês
O samba não é do morro. O samba não é chinês. O samba é tupimambá.

Todos saem de cena com o término da música.

TERCEIRO MOVIMENTO – entre arlequins e canibais ou como os tupinambás descobriram o futebol antes dos ingleses.

Mario de Andrade entra no palco andando de bicicleta em círculos.

MARIO DE ANDRADE (como se estivesse vendendo jornais): “Há uma gota de sangue em cada poema”. Um imenso Abaporú que em cada verso regurgita mundos e reconstrói universos, protoplasmas de indiscutível subjetividade atômica. A máquina! A máquina macia que devora sonhos. Cuidado: as realidades são muitas e os sonhos são poucos. Extra! Extra! São Paulo invadida!

Anda em círculos cada vez menores até que para no centro do palco.

MARIO DE ANDRADE: Atônitos, um milhão de abaporus correram soltos pelos guetos e pontes sujas de São Paulo. Queimaram tudo, arrasaram a cidade e semearam o caos; mendigos, banqueiros, velhos e crianças, nada escapou a sua fome. Destruíram museus, teatros, fábricas, hospitais, igrejas. Implodiram prédios. Sua glória foi vã e seu motivo inexistente. Persistiram e se multiplicaram.

Sai de cena. Som de tambores, flautas indígenas, pássaros. Uma luz se acende sobre Cunhambebe que, sentado de costas para a platéia, sorve sangue de uma tigela.

CUNHAMBEBE: O carnaval é feito de versos livres, bandeiras, villas, andrades, vaias, miados, latidos, grunhidos, relinchos. Porque se há uma gota de sangue em cada poema, há uma pedra no meio do caminho de cada poema. Na verdade, no meio do caminho há uma pedra de Ipeirog com um certo Hans Staden engordando na sombra do pau-brasil enquanto espera para ser devorado e sonha com Anchieta levitando entre os tupinambás no Teatro Municipal de São Paulo em plena Semana de 22. Um nhê-nhê-nhêm contínuo pelas beiradas do tempo, mingau de átomos . A-karu ybaka (eu como o céu).

Mario de Andrade cruza o palco de bicicleta em disparada.

MARIO DE ANDRADE: São eles! Fujam! Fujam!

CUNHAMBEBE: “Já sempre já. Já sempre mais. Já nunca jamais”.

A tribo entra correndo, forma um círculo em volta de Cunhambebe e responde em coro, iniciando uma dança de celebração. Ao término, um banquete de corpos humanos é repartido entre os tupinambás. Acende-se um foco de luz sobre Wisnik amarrado. Depois de alguns momentos, uma cabeça rola pelo chão e cai aos pés de Wisnik que tenta fazer embaixadas. Quando começa a falar, aos poucos os tupinambás param e começam a ouvi-lo.

WISNIK: Amigos, amigos. Sei que a fome é muita e o tempo exíguo. Mas não podemos deixar de conversar um pouco enquanto tão suculenta homenagem é repartida. Sei que ficaram impressionados e eu bem poderia tocar fogo nos rios se quisesse. Mas o futebol é minha arte, companheiro constante de meus pensamentos, dúvidas, reflexões. Ouçam, “segundo Pasolini o futebol se joga em prosa e em poesia. Os europeus jogam em prosa. Digamos, os alemães e os ingleses jogam em prosa realista, os italianos jogavam em prosa estetizante. E os sul-americanos, especialmente os brasileiros, jogariam em poesia. E ele descreve semiologicamente isso. É um texto muito interessante, que coloca a questão do futebol brasileiro como um futebol de poesia. Há uma outra variante disso, que recrudesceu na década de 70, que é a do futebol força: ocupação de espaços, vigor físico para matar a pretensão de jogadas criativas. A Copa de 70 consagrou aos olhos do mundo um futebol poesia, e o desenrolar da década de 70 trouxe uma dúvida sobre isso, porque levantou o futebol força. O futebol em prosa ganhou uma espécie de dominância aparente que fazia, no Brasil, acreditar-se que a arte era uma coisa do passado. Isso está ligado às eternas oscilações entre reconhecimento e negação do ser brasileiro. Então justamente das Copas de 1974 a 1994, são 20 anos em que a pergunta é “entre a poesia e a prosa, qual é a superior”, que é a pergunta do Caetano Veloso na música Língua”.

TIBIRIÇÁ: "O futebol é o teatro do mundo" - Horst Bredekamp.

BARTIRA: "Futebol significa liberdade" – Bob Marley.

PIQUEROBI: "Em que o futebol se parece com Deus?", questionou o escritor uruguaio Eduardo Galeano.

Blecaute em resistência enquanto saem os tupinambás levando Wisnik e discutindo sobre futebol. Acende-se um corredor de luz horizontal. Sons de carros, buzinas, conversas e propagandas comerciais. Um homem vestido com terno atravessa lentamente o palco. Uma bola de futebol é jogada em sua direção. Sons de torcidas de futebol, apitos e narrativas entrecortadas. Olha para os lados e começa a fazer embaixadas com a bola.

QUARTO MOVIMENTO – o parto dos abaporus ou como makunaima pressentiu a o vôo do ultrapássaro na madrugada das pérolas.

Os abaporus entram em cena. Bailarinos improvisam sobre o tema. O parto dos abaporus – onde nasce Makunaima. Ao piano a música “O ultrapássaro da primavera”

A primavera é quando ninguém mais espera / É quando jogo / Pérolas aos poucos
Aos mares / À lama de onde vem / Maré cheia / Eu jogo ao fogo a loucura
De tanto ser demais, / de tanto ser além de céus azuis
ultrapássaros, pérolas e praias / A primavera é o pesar do mundo
Um fio de loucura / Fagulha / Eu jogo pérolas ao sol

Blecaute.

texto: Márcio Barreto

quarta-feira, 14 de março de 2012

Companhia Instável de Repertório - CITY

Dia 17 de março as 17 hs, acontecerá a apresentação da "Companhia Instável de Repertório - CITY", um coletivo de artistas e intelectuais para pesquisa, experimentação e criação dramaturgica estreitando laços entre a tradição teatral de Santos e a força cultural de São Paulo.

Na ocasião haverá leitura de manifesto por Flávio Viegas Amoreira, debate entre o maestro Gilberto Mendes e a jornalista Marcia Costa sobre os rumos e a trajetória do teatro brasileiro a partir de Santos e do Litoral Paulista e apresentação do grupo experimental "Percutindo Mundos". Estarão presentes os artistas: Marcelo Ariel, Márcio Barreto, Alessandro Atanes, Fabricio Lopes entre outros.

COMPANHIA INSTÁVEL DE REPERTÓRIO - CITY
Salão Verde - Pinacoteca Benedito Calixto
Av. Bartolomeu de Gusmã, 15 - Santos /SP
17/03 - Sábado - as 17 hs

sexta-feira, 9 de março de 2012

Percutindo o Samba - história e poesia

"Percutindo o Samba"

A apresentação refaz a trajetória do samba desde a umbigada, o jongo, o samba de roda, passando pelas músicas inesquecíveis de Donga, Ataulfo Alves, Cartola, Candeia, Zé Ketti. Além dos autores consagrados o grupo apresenta suas composições inspiradas no que denomina de samba calunga. Marcado pela percussão e experimentação o samba aparece com nova roupagem, interpretação teatral e dança levando ao público a beleza do ritmo que nos torna mais brasileiros.

Repertório

Viola, meu bem - Edith do Prato (domínio público)
Eu já amei bastante - batuque de umbigada (domínio público)
Pelo Telefone - Donga
Sinhá Dona de Casa - Candeia
Na Cadência do Samba - Ataulfo Alves
Alvorada - Cartola
Volta por Cima - Paulo Vanzolini
Nega Dina - Zé Ketti
Diz que fui por aí - Zé Keti
Samba da coca-cola - Percutindo Mundos
Dalai Lama ou a volta que o mundo dá - Percutindo Mundos
Mundo Samba - Percutindo Mundos

Duração: 60 minutos

Gênero: Intervenção Artística

Faixa Etária: Livre

Instrumentação: Surdo, Djembe, Tan-tan, Pandeiro, Tamborim, Prato, Frigideira, Reco-reco, Ovinho, Ganzá, Cuíca, Berimbau, Quimbau, Viola, Cavaquinho, Banjo

Integrantes: Célia Faustino, Felipe Faustino, Jean Ferreira, Jorge Lampa, Léo, Márcio Barreto, Wylmar Santos