quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Aerografias - celebração móvel



“Aerografias - celebração móvel” procura ressignificar a arte caiçara trazendo-a para o âmbito do contemporâneo e do experimental, possibilitando novos recortes curatoriais e combinações multi-linguísticas, onde a música se une à literatura, à dança, ao vídeo e à filosofia para refletir sobre nossa movência no universo e criar novos significados e possibilidades de expressão através de zonas proximais de ressignificação metalingüística, estabelecendo questionamentos sobre a atual condição identitária do homem e do lugar em que vivemos, onde culturas específicas são engolidas por centros irradiadores e esquecidas pela cultura de massa. Uma percepção da arte como experiência inventiva, fundadora e identitária em um universo fragmentado pelo cotidiano. Baseada nas especulações de Stuart Hall, sociólogo e pensador jamaicano, acerca da identidade cultural na pós-modernidade, os intérpretes-criadores transitam pela obra dos escritores portugueses Jorge Melícias e Luís Serguilha e suas relações com a poética dos escritores brasileiros Flávio Viegas Amoreira e Marcelo Ariel. A paisagem sonora baseia-se na obra do compositor português Jorge Peixinho e do compositor brasileiro Gilberto Mendes – executadas pelo pianista Antônio Eduardo, assim como na música-cinema (ambiência derivada pelo processo de colagem de fragmentos de filmes, discursos, ruídos, etc.) do grupo de música contemporânea caiçara Percutindo Mundos.

Vídeo de apresentação:





JUSTIFICATIVA
 
Ítalo Calvino em “Seis propostas para o próximo milênio”- uma série de conferências que daria nos Estados Unidos entre 1985/1986, alertava para uma crescente crise da linguagem através da expansão das línguas ocidentais modernas e suas literaturas. Enquanto o objeto-livro se caracterizava como o conhecemos hoje, o desenvolvimento da Internet começava a abalar suas estruturas, pois o nomadismo que possibilitava a combinação de diferentes signos, suas traduções, fusões e re-significações, encontra nas redes mundiais um campo fértil para suas transformações.

Percutindo Mundos












Novas tecnologias, como a computação em nuvens, possibilitam a construção virtual de uma inteligência coletiva, feita através de identidades pessoais. Em filosofia, a identidade pessoal é o que define o indivíduo como tal em um ou outro momento de sua existência, um conjunto de referências e signos que possibilitam o reconhecimento do ser. Mas como assegurar a identidade em um mundo onde podemos mudá-la e reinventá-la a cada instante, onde as referências étnicas, raciais, lingüísticas, religiosas, regionais e nacionais modificam-se de acordo com as necessidades surgidas pelos processos de globalização - problema recentemente discutido pelo escritor angolano Valter Ugo Mãe em “A máquina de fazer espanhóis” e também comentado por J. L. Borges quando sentenciava que não era um escritor latino-americano, mas sim europeu, porque possuía em sua família o sangue inglês, espanhol, português e talvez judeu. Tamanha diversidade e fragmentação, segundo Stuart Hall, aviva uma “crise de identidade oriunda do deslocamento das estruturas e processos centrais das sociedades contemporâneas, abalando os antigos quadros de referência que proporcionavam aos indivíduos uma estabilidade no mundo social”. Ironicamente, no início de nossa colonização portuguesa, definíamo-nos como não-reinóis (não nascidos no Reino): não éramos brasileiros, não éramos mestiços, não éramos caiçaras, éramos o que não éramos.

Antonio Eduado













Acredita-se que exista um centro irradiador de cultura responsável pela influência e direcionamento da cultura mundial. Mas saber que tais e quais países influenciam outros culturalmente, seja através de seu idioma, de seus costumes, música, filmografia, etc., não significa, necessariamente, que não sejam influenciados também. A tendência à miscigenação cultural é um caminho irreversível, se por um lado verifica-se a massificação da cultura, por outro, a possibilidade de pequenas culturas terem atenção é maior. A Tropicália, por exemplo, que na década de 1960 influenciou a música brasileira, nos dias de hoje tem influenciado a música americana. Dentro de um processo de reconhecimento e reavaliação musical, os americanos perceberam a incrível tendência que a Tropicália continha: exatamente o poder de romper barreiras e perpetuar a miscigenação cultural. Pois, como comentaria Marshall McLuhan, vivemos em uma “aldeia global, sintetizada por uma rede infinita de mensagens e meios, de novas mídias de comunicação, onde podemos legar nossas experiências e seus impactos sensoriais”.
                       
Célia Faustino e Márcio Barreto














Na década de 1980, Antonio Carlos Diegues (NUPAUB – USP /SP) publicava as primeiras pesquisas sobre a identidade cultural caiçara, tema até então desprezado pelo mundo acadêmico. Segundo Diegues, o caiçara - palavra de origem tupi que significa “armadilha ou cercado de galhos”, é o indivíduo de comunidades tradicionais de pescadores localizadas no litoral sul do Rio de Janeiro, no litoral de São Paulo e no litoral norte do Paraná.  Vive em comunidades isoladas e sobrevive basicamente da pesca e da agricultura de subsistência. Cultural e geneticamente é fruto da miscigenação entre índios, portugueses e africanos, ocorrida nos primeiros tempos da colonização. Produz artesanato funcional e seu universo musical baseia-se no Fandango - música original dos salões da nobreza européia que mais tarde ganharia o gosto popular. Sua identidade está na gênese e na formação do povo brasileiro, tendo se propagado através dos bandeirantes paulistas  que alcançaram as terras do Paraguai depois de desbravar o Sertão Paulista, Paraná, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Goiás e Mato Grosso levando consigo sua herança cultural, hábitos, crenças e conhecimento. Assim, procuramos refletir sobre como referências locais e históricas possibilitam um processo de re-significação e miscigenação de identidades culturais estrangeiras, trançando um paralelo entre a tradicional identidade caiçara e a contemporânea em sua “movência” e na longevidade de seus signos.

Adilson Félix



















O valor da obra consiste exatamente na preservação e reinvenção desta cultura local e genesíaca - o caiçara visto como expressão de ancestralidade, cosmopolitismo e contemporaneidade, formador de uma identidade nascida de diferentes culturas estrangeiras. Deste modo, o processo criativo, como imagética genesíaca, desdobra-se em releituras identitárias que situam o invisível dentro da ficção social do espaço conduzido pelo discurso poético corporal: a reinterpretação do passado como noção transformadora do presente através do consciente coletivo, suas memórias, tradições, nomadismos e hibridismos. O corpo visto como palavra, lugar, música, afetividade e suas relações com o tempo, espaço, identidade, alteridade e memória – a dança como espaço criativo e simbiótico de permanências instantâneas e habitações momentâneas, o não-lugar, a reinvenção da realidade a partir do contato da pele com um mundo onde a identidade é trocada por máscaras de ideais auto-suficientes e a afetividade substituída pela liquidez das convenções.

  
OBJETIVO

                  
- discutir a a identidade cultural na ós-modernidade
- celebrar a arte contemporânea caiçara e suas relações com a cultura portuguesa
- resgatar nossas tradições e misturá-las ao contemporâneo
- estimular a pesquisa e a criação artística
- facilitar à população às fontes de cultura
- estimular a produção, o intercâmbio e a difusão cultural e artística
- conectar diferentes expressões culturais
- preservar e divulgar o patrimônio cultural e histórico brasileiro


FICHA TÉCNICA


Número de integrantes: 07 (sete)

Detalhamento: Espetáculo de Música, Dança, Vídeo e Literatura

Nome:  Aerografias – celebração móvel”

Nome do grupo:  Percutindo Mundos, Núcleo de Pesquisa do Movimento - Imaginário Coletivo de Arte

Concepção e direção: Márcio Barreto

Intérpretes-criadores: Célia Faustino, Márcio Barreto

Músicos: Antônio Eduardo, Márcio Barreto, Célia Faustino, Bruno Davoglio, Robson Peres

Direção Musical: Percutindo Mundos

Figurino: Núcleo de Pesquisa do Movimento - Imaginário Coletivo de Arte

Fotografia: Adilson Félix

Criação de Vídeo: Márcio Barreto

Duração: 01 hora


 HISTÓRICO DO GRUPO
 
Núcleo de Pesquisa do Movimento – Imaginário Coletivo de Arte - formado por artistas e pesquisadores do litoral paulista em suas diferentes linguagens, tem como proposta pesquisar a “Arte Contemporânea Caiçara”, valorizando raízes e misturando-as à contemporaneidade. O Núcleo de Pesquisa do Movimento - pertencente ao Imaginário Coletivo de Arte - formado em fevereiro de 2011, é resultado de anos de pesquisas desenvolvidas em diferentes áreas que culminaram na busca de uma nova sintaxe corporal, através da reflexão sobre os processos criativos na Arte Contemporânea Caiçara. Seus integrantes convergem da dança, eutonia, teatro, circo, música e “Le Parkour”. Estão diretamente ligados a experimentação através de núcleos de pesquisas desenvolvidos no Espaço de Consciência Corporal Célia Faustino (2003), no grupo Percutindo Mundos – música contemporânea caiçara (2008) e no Projeto Canoa – pesquisa da Cultura Caiçara (2007). Participou da Bienal Internacional de Dança do SESC (2011), Virada Cultural e Virada Cultural Paulista  (2011), Cultura Livre SP e III Circuito Vozes do Corpo  com o espetáculo "Homo Ludens" - dança contemporânea (2012).                 

Percutindo Mundos - formado em janeiro de 2008, o grupo tem se apresentado regularmente desde agosto de 2011 no SESC Bertioga com os espetáculos Universo em Movimento, Universo em Gentileza, Percutindo o Samba e Mundocorpo, além de se apresentar em São Paulo e Rio de Janeiro em diferentes eventos, tais como: 30 anos do Lira Paulistana (FUNARTE -  2010), Itinerâncias e Cine Clube Paraty (Casa da Cultura de Paraty /RJ - 2008 e 2011).   tem sua criação voltada a re-significação de identidades culturais, unindo o ancestral caiçara ao contemporâneo através da literatura, filosofia, dança e artes visuais. Suas paisagens sonoras remetem à influência das culturas indígena brasileira, portuguesa e africana misturadas à urbanidade e ao cosmopolitismo. Sua música é caracteriza pela harmonia dos timbres, o minimalismo, a aleatoriedade e a melodia percussiva. A apresentação é marcada pela criatividade, misturando linguagens e provocando reflexões. Todas as músicas são autorais..


HISTÓRICO DOS INTEGRANTES

Adilson Félix - fotógrafo nascido em São Vicente, SP, morou na Baixada Santista até ir para São Paulo. Estudou Fotografia na Escola Panamericana de Arte. Foi para Paris, onde vivei 18 anos trabalhando com jornais e revistas do Brasil e de outros países. A experiência na colaboração com veículos de diferentes linhas editoriais vai de reportagens sobre diversos assuntos por países da Europa, como o circuito de moda internacional prêt-à-porter e alta costura, pautas em Israel e Palestina, conflitos e fome no Sudão, epidemia de AIDS em Uganda, fotos no Quênia, Ruanda, Tanzânia, cobertura de viagens oficiais de república, governadores e outros políticos, espetáculos culturais, retratos de personalidades e artistas de diferentes horizontes, trabalhos em decoração para criadores e revistas especializadas e fotos de moda. A possibilidade do contato com vários segmentos da fotografia, passando de um tema a outro, fez com que, técnica e experiência, se somassem para desenhar um trabalho bastante eclético.


Antônio Eduardo - Participando com freqüência de festivais, encontros de música contemporânea e congressos nacionais e internacionais em musicologia, Antonio Eduardo vem se destacando como um pianista e pesquisador voltado para a música de seu tempo. Escreveu “O Antropofagismo na obra pianística de Gilberto Mendes” (AnnaBlume/FAPESP), além de diversos artigos para periódicos sobre música  contemporânea. Atualmente dirige na Bélgica a coleção voltada para música contemporânea brasileira Antonio Eduardo Collection, constando em seu catálogo obras de Gilberto Mendes, Silvia Berg, Sergio Vasconcelos Correa, Rodolfo Coelho de Souza e Almeida Prado.

Célia Faustino – mapeada pelo Rumo Itaú de Dança, é formada em Ballet Clássico pela Escola Municipal de Ballet em Santos (1972 a 1980). Formada em Ballet Clássico pela Royal Academy of Dancing (1980 a 1985). Especialização em Dança Moderna nas técnicas Grahan e Limón (1986 a 1988). Especialização em Consciência Corporal com Klauss Vianna (1988 a 1990). Cursou aulas de New Dance e Contato Improvisação (1990 a 1996). Formada pela Escola Brasileira de Eutonia (1998 a 2001). Formada pela Escola do Movimento Ivaldo Bertazzo (2005 a 2006). Professora de técnica de dança na Faculdade de Artes Cênicas CARMO (1985 a 1986). Professora de Dança Moderna na Faculdade de Dança UNIMES (1988 A 1996). Professora de Dança Expressiva, Alongamento e Eutonia no SESC/Santos (1988 a 2002). Bailarina do Corpo Estável de Dança da Secretária de Cultura de Santos (1992 a 1994). Iniciou carreira solo como intérprete-criadora em 1994. Participou de três Bienais de Dança no SESC / Santos. Atualmente é diretora do Espaço de Consciência Corporal Célia Faustino. É integrante do grupo experimental de música contemporânea caiçara “Percutindo Mundos”, do Núcleo de pesquisa do Movimento e do Imaginário Coletivo de Arte.

Márcio Barreto nasceu em 10 de maio de 1970, em Santos /SP. Dramaturgo, diretor e ator: Fundador e diretor do grupo Teatro Canoa e Imaginário Coletivo de Arte. Dirige, atua e assina a dramaturgia de “Atro Coração” (Teatro Canoa) e “Ácidos Trópicos – uma livre criação sobre a obra de Gilberto Mendes” (Imaginário Coletivo de Arte). Atuou em “Poetar Acordar para o Sol” (direção Douglas Gonçalves), “O Guará do Lago Encantado (grupo TVG, direção Paulo Maurício),” Tem Cupim na Torre da Igreja “(grupo  TVG, direção Paulo Maurício), “Perto de Lugar Nenhum” (Kabuk, direção Egbert Mesquita). Atuou no filme “Amanhã Nunca Mais” do diretor Tadeu Jungle e na minissérie da Globo “Amor em Quatro Atos” . Assistente de Direção e diretor de núcleo na “ Encenação da  Fundação da Vila de São Vicente 2012”. Intérprete-criador e um dos diretores / fundadores do Núcleo de Pesquisa do Movimento – Imaginário Coletivo de Arte. Atua em “Homo ludens – fluxos, lugares e imprevisibilidades ”,  “Exílios: cartas ao vento” com Célia Faustino, “Um a Um”- espetáculo fruto da residência com o grupo Lês Ballets C de la B (Bélgica)  e em diversas intervenções no espaço público. Vídeo-cineasta: “Totem – o universo por debaixo da pele” (média metragem) e inúmeros curtas na Internet. Artista circense formado pela Escola Livre de Circo (Oficina Cultural Regional Pagu – Santos /SP) em acrobacias aéreas, atuou nos espetáculos “Marcas de Plínio” e “Pagu”. Músico: fundador do grupo experimental “Percutindo Mundos”. Compositor e multi-instrumentista (rabeca, flauta doce e contralto, clarinete, acordeom, teclado, escaleta, violão, banjo e percussão). Luthier: criador dos instrumentos quimbau, trimbau, tum, flauta smetakiana, adufo calunga. Fotógrafo: exposições na Pinacoteca Benedito Calixto (Santos /SP), Casa da Cultura de Paraty (Paraty /RJ) e Parque Cultural Vila de São Vicente (São Vicente /SP).      Editor da Edições Caiçaras, editora artesanal. Escritor: Totem (romance), O Novo em Folha (poesia), O Ser e o Pensamento (filosofia), Atro Coração (teatro), Nietszche – ou do que é feito o arco dos violinos (poesia), Ácidos Trópicos – uma livre criação sobre a obra de Gilberto Mendes (teatro), Wisnikianas – visões antropofágicas na ilha de São Vicente (teatro). Pesquisador da Cultura Caiçara: “O Brasil Caiçara – uma outra abordagem sobre a gênese da identidade brasileira” (palestras na UNESP – São Vicente /SP, USP – São Paulo /SP, Casa da Cultura de Paraty – Paraty /RJ e Oficina Regional Pagu – Santos /SP).  Produtor Cultural: Organizador do “Sarau Caiçara – Pinacoteca Benedito Calixto” (Mapa Literário do Estado de São Paulo) e de Encontros Regionais de Cultura Caiçara realizados em São Vicente, Santos e Paraty. Curador e organizador da Mostra de Arte Contemporânea Caiçara - Santos /SP, Itinerâncias – Paraty /RJ, Virada Caiçara – São Vicente /SP e Vitrine Literária – SESC Santos.

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